Saturday, November 24, 2007

Para bom entendedor...

...meia palavra basta. É um ditado que os franceses devem adorar! Palavras com mais de duas sílabas aborrecem o bicho francês e, por isso, são logo cortadas.
Exemplos?
- "Amphi", para "Anfiteatro"
- "Medoc", para "Medicamento"
- "Centri", para "Centrifugadora"
- "Dir", para "Direcção"
- "Manif", para "Manifestação"
Enfim, I think you got the picture! ;)
Foi a quarta língua que tive de aprender: o "Meio-francês".

PS: eu não estive em exílio nestes últimos dias nem fui raptado pelos meus "colegas de carro". Acontece que só ontem é que a greve acalmou e eu, para evitar o "covoiturage", apanhei os transportes alternativos mais cedo e cheguei mais tarde a casa... Estou com uma bela privação de sono. Que maravilha!

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Sunday, November 18, 2007

Je déteste le covoiturage (Parte II)

Disclaimer: este é dos grandes, se tiver de conduzir ou manobrar maquinaria pesada a seguir, não leia isto!

Com o dia do início da “greve negra” (quase escrevi “neve grega”, LOL) comecei a ficar preocupado: muitos transportes ficariam sem o mínimo serviço assegurado e não queria faltar uma semana ao trabalho.
Outras pessoas nas mesmas condições no meu instituto começaram a enviar, por mail, pedidos de boleia a pessoas que viessem de carro e morassem perto deles. A ideia começou a ganhar aderentes e criou-se uma secção específica no site de intranet para esta partilha de carro (“covoiturage”).
Infelizmente nenhum dos meus colegas de laboratório ou das pessoas que disponibilizaram a sua boleia moravam perto de mim. Já me estava a ver pedir boleia na rua…Até que um colega meu me falou de um gajo que conhecia e que morava em Paris. Fomos vê-lo e, para minha surpresa, eu não só já o conhecia de vista como já falei dele neste blog: descrevi-o como o “gordo seboso que exibe o seu Ipod, como se isso o tornasse muito cool" (obviamente que, agora, já sei o nome verdadeiro do fulano). Ora eu achei estranho ele vir de carro, pois via-o no comboio e autocarro frequentemente. Rapidamente a minha dúvida se dissipou: ele viria com um amigo dele nos dias de greve e teve a simpatia de telefonar ao mesmo para lhe perguntar se havia espaço no carro para mim.Mal podia esperar: enfiar-me no carro de um gajo que não conhecia de lado nenhum, a pedido de outro que também não me conhecia (“awkward”…). É a vida!
Bem, acontece que o condutor também não morava perto de mim e tive de fazer um pouco de turismo matinal por Paris para descobrir a casa dele.
À porta do condutor, eu, o gordo do iPod e uma outra gaja esperámos até à hora que havia sido combinada: 8h45m (para mim, esta hora é um pouco tarde, pois costumo chegar ao laboratório às 9h… mas, eih, longe de mim queixar-me!).
Finalmente, o condutor desceu nas calmas e disse que ainda tinha de fazer uma coisa antes e sugeriu que fossemos beber um café enquanto esperávamos (ele deve ter-se sentido culpado depois pois insistiu em pagar os cafés).
O carro estava numa garagem, num lugar tão estreito que o condutor o deixa destravado e puxa-o para poder abrir a porta e entrar.
A viagem durou uma hora e foi das horas mais longas da minha vida, pois senti-me um “outsider” todo o tempo! Eles já se conheciam há bués e todos os temas de conversa que tinham eram-me totalmente inabordáveis.
Ao som da estação mais aborrecida à face da Terra (que só transmite debates que, sinceramente, só interessam às pessoas que estão a debater!), o condutor e o gordo do iPod discutiram, nos bancos dianteiros, política e história antiga de França. Mais tarde, tive também a oportunidade de apanhar uma overdose de cultura quando se puseram a relatar os espectáculos e artistas que tinham ido ver ao teatro “Olympia”.
Atrás, eu estava com uma expressão de “Meu Deus, de onde saíram estes cromos?!” e a gaja atirava um ocasional bitaite que mostrava bem que também estava à nora.
A conversa deles degenerou a um novo baixo quando o gordo confessou que tinha no iPod os detalhes todos dos artistas e o condutor pôs a tocar um CD de Jazz cubano. Eu costumo dizer que sou eclético nos meus gostos musicais e que “gostos não se discutem”, mas jazz cubano is where I draw the line! Até música de elevador era melhor! Revirei os olhos até eles darem uma volta de 360º e tentei ser optimista, imaginando todos os possíveis acidentes que poderiam acabar com o nosso sofrimento até chegarmos ao instituto!
Quando cheguei ao laboratório, todos os meus colegas me perguntaram como estava. Com uma enxaqueca descomunal, disse entre dentes “Jazz Cubano”! Quando me perguntaram com quem eu tinha vindo reparei numa coisa “engraçada”: eu não fui formalmente apresentado ao condutor nem à gaja pelo que não fazia a mínima ideia de como se chamavam!
Confesso que estava com um pouco de miaúfa que eles regressassem a casa sem mim e cedo comecei a assediá-los para evitar esse “esquecimento” da parte deles.
Na viagem de regresso, sabendo que dia 15 seria igualmente difícil no que diz respeito aos transportes públicos, juntei todo o masoquismo que há em mim (acreditem, não é muito) e perguntei timidamente: “e, amanhã, posso vir com vocês outra vez?”

Wednesday, November 14, 2007

Je déteste le covoiturage! (parte 1)

Algo de que rapidamente me apercebi é que os franceses são mais reivindicativos do que os portugueses, usando com força os direitos à manifestação e à greve. É um braço de ferro em que o governo já tem perdido (algo que não me lembro ter visto em Portugal). As empresas de transportes públicos francesas são particularmente conhecidas pela grande frequência com que entram em greve (tipo, uma todos os dois meses ou assim), especialmente a SNCF.Como costumo começar o dia cedo e tomar transportes essenciais (e, consequentemente, assegurados) nunca tinha sido perturbado pelas grevezitas que tinham havido até agora.
Até agora…
Para quem não sabe, dia 18 de Outubro houve uma greve dos transportes públicos em França devido à aprovação de uma lei que vai abolir com os regimes especiais de reforma. Na minha ideia era “mais uma greve” que eu encarava com um bocejo pedante, como se não fosse nada comigo. Mas foi: bati com as trombas no gradeamento de entrada da gare do comboio que até me lixei! Mantive a calma e pensei: no problem, vou optar pelo plano B, que consistia em apanhar uma outra linha de Metro e outro Bus, mais longo e complicado. Resumindo: essa linha de metro também estava fechada e tive de optar por um “plano C” que me levou mais do dobro do tempo.
Mas continuando: eu tinha conseguido chegar ao laboratório mas estava preocupado com o regresso a casa. Começava a estar disposto a tudo e uma colega minha até fez uma simulação do percurso pedestre entre o instituto e a minha casa: 9 Km! Ok… disposto a QUASE tudo, pois com o dom que tenho para me perder nos percursos mais pequenos e simples, 9 km nocturnos era uma demanda uma beca arriscada! Enfim, acabei por encontrar transportes alternativos, mas foi complicado.
Como o presidente, entretanto, não mudou uma vírgula à lei e até aumentou o seu próprio salário de uns quantos milhares de euros, os sindicalistas até bufaram. Resultado: anunciaram uma greve negra, com ainda mais aderentes (praticamente zero transportes públicos a começar no 14 de Novembro e a acabar… basicamente, quando lhes der na telha).
Segunda parte, muito em breve…

Nota ao caro leitor: UAU! O profundo tédio de ler isto não vos pôs a dormir de boca aberta e a babar em cima do teclado? Certamente que já se interrogaram (se não neste “post”, em qualquer dos outros, LOL): “mas em que é que isto contribui para a minha felicidade?”… pois… nada, mas aguentem que eu prometo que o segundo episódio não será todo dedicado à política e aos transportes públicos franceses… Infelizmente, confesso que também não haverão cenas de sexo explícito! Désolé!

Sunday, November 11, 2007

Beijos à francesa

Em França, o número de beijos que se dá num cumprimento varia consoante a região (não sei exactamente como) e não consoante a “classe social” (se considerarmos que é um “costume Tuga” dar só um beijo em vez de dois, quando se é “de bem” – o que considero ser perfeitamente discutível).Na maioria dos casos, os dois beijos são o adoptado mas, no norte, é frequente as pessoas saudarem-se com quatro beijos! Resultado: quando vou a Lille (que fica no norte), acontece-me deixar algumas raparigas a beijar no vazio, à espera do 3º e 4º beijos, quando eu “já parti para outra”.

Geralmente peço desculpa e tento lembrar-me de que "aquela" é para eu beijar quatro vezes. É verdade que podia voltar atrás e dar os dois que faltavam, mas... e se na cabeça dela o cumprimento tivesse feito "reset" e voltasse a esperar mais dois no fim? Ai, ai, a vida de emigrante é tão difícil! LOL

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Monday, November 05, 2007

O autocarro cancerígeno

Não, não vou falar de poluição.
O instituto Curie tem uns cartazes novos nos autocarros com o seguinte slogan: "Uma em cada duas pessoas neste autocarro terá cancro ao longo da sua vida."
Bolas - nunca pensei que andar de autocarro fosse tão perigoso! LOL
(Obviamente que se trata de uma campanha de prevenção contra o cancro - a doença estudada nesse instituto. Mas a verdade é que quase me fez pensar em não entrar no maldito bus - como se essa acção estúpida me permitisse fugir às estatísticas.)